O que é leitura de obra de ARTE?
Temos aspectos importantes que é preciso considerar
para essa compreensão. Fundamentalmente, que ao se pensar a palavra leitura,
imediatamente tem-se a relação com a leitura e escrita de textos com base nas
palavras da língua do falante e na sintaxe desse vocabulário que o falante
articula. Para que se possa expandir a ideia de leitura, para o mérito das obras
de artes, é prioritariamente necessário que se tenha a noção de que a linguagem
que estar ai para ser examinada tem uma correlação com a sintaxe da forma visual dos elementos
que constitui a percepção visual, ou seja, é linguagem visual. Daí deve-se
apresentar o problema sob três concepções:
a.
Considerar-se-á que a
leitura de uma obra seja um ato complexo, pois envolve aspectos que estão no
âmbito da construção da imagem visual e ao mesmo tempo na mente de quem ler a
obra;
b.
É preciso, nesse ato,
reconstruir a obra em plenitude no pensamento de sua realidade sensível, para
que a obra se revele;
c. Então, o que a obra revela? i) o seu significado espiritual; ii) o seu valor artístico; iii) a contemplação e fruição.
Desse forma, ter-se-á uma primeira impressão do significado de leitura de obra de arte, conforme premissas de Luigi Pareyson (1997): Ler uma obra é executar, interpretar e avaliar, para chegar a contemplá-la e gozá-la.
Porém, essa definição traz dois pontos de vistas na direção filosófico metodológico. Um com base na concepção kantiana e outro hegeliana. Pareyson enfatiza que essas concepção fundam firmemente o pensamento italiano, um na perspectiva croceana e outro na gentiliana. Mas que é preciso visitar tais concepções para poder esclarecer o processo nos quais os métodos se inscrevem. Toma-se a seguinte obra:
Expressão da Amazônia. Gravura Digital. https://www.alixa.art
Essa é uma obra de minha autoria (ALIXA), cuja identidade visual se relaciona com elementos da natureza Amazônica. Pareyson levanta que existem dois métodos para se olhar a imagem visual, mediante os pontos de vistas supracitados: a REEVOCAÇÃO; e a REVOCAÇÃO. A primeira se dar no movimento do pensamento quando o olhar alcança a obra, o pensamento é estimulado e assim acontece a Reevocação - o leitor se renova impulsionado para o que ver e revive as sensações internas e se recria no mundo da sua imaginação, como poesia visual subjetiva. Assim, constrói em seus pensamentos imaginações como um texto mental por meio dos sentidos fisiológicos sobre a obra. Também o leitor, nesse momento, se apropria da imagem na imaginação para reviver a obra como uma citação da arte do mundo real no pensamento de alguém. Poder-se-á perguntar sobre a obra acima: O que você ver? Descreva a imagem e ao mesmo tempo diga o que ela te remete (lembranças, memórias, referências visuais etc)? Como você organiza a imagem, imaginando que algo pode ser mudado nela? Que sentimentos te invade ao olhar atentamente sobre a obra? De onde será que vem essa imagem da gravura? Quais elementos se repetem e porquê? O que é fascinante, misterioso e/ou oculto na imagem? Que título você daria a ela?
Observe que na REEVOCAÇÃO não se cria nada de novo,
mas que deve ser dito apenas o que se ver ao olhar a obra. São as impressões do
objeto artístico na subjetividade do leitor. Por isso, nem ato e nem conteúdo são
recriados, o esforço do leitor é prestar muita atenção na imagem que ler.
Contudo, é uma forma do olhar relativo ao modo de ver do leitor que interpreta
e recria no pensamento aquilo que ver. Não há como intervir no conteúdo porque
o conteúdo é aquilo que estar posto na imagem e não se pode alterá-lo.
No próximo post escreveremos sobre a REVOCAÇÃO.